terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O Matrimónio do Contencioso Administrativo (Parte I)

Os personagens e factos retratados neste romance são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas ou coisas da vida real é pura coincidência.

O Matrimónio do Contencioso Administrativo


Após o Crisma, Contencioso tornou-se maior e autónomo nas suas decisões.

De muitos anos passados pela égide Administrativa, chegou a hora de Contencioso casar, arranjar um parceiro para a vida, enfim, ajuntar-se.
Na verdade, há muito que vinha enamorando alguém de grande antiguidade e estabilidade – Processo Civil.

Nem seus pais sonharam ou autorizaram que tal união fosse possível, pelo que o arranjo foi mantido em segredo.
Segredo ou não, tudo começou quando se conheceram tal como hoje são: uns tuteladores de particulares. Nem sempre Contencioso assim fora. Não há tão poucos anos buscava quimeras existenciais da legalidade. Mas crescera. Tornara-se alguém em que qualquer um pudesse contar. Entregara-se ao mundo e deixara os velhos senhores que serviram seus pais.

Contencioso e Processo Civil têm tudo para serem felizes, mas Contencioso, apesar de diferente, custa-lhe largar certos hábitos do passado. Por vezes tem recaídas e volta para a busca da fantasia da legalidade de seus actos. Processo Civil acredita que o consegue mudar; esperemos pelo resultado dos seus esforços.

Começa as preparações para o casamento. Contencioso e Processo Civil dirigem-se a uma das melhores lojas para a ocasião. Na mesma, entregam-lhes um manual essencial com tudo o que é necessário para o grande dia e sua preparação. Na capa vem escrito “Código de Processo nos Tribunais Administrativos” – Tomo 1. Processo Civil pensa que é pouco, precisam de algo mais. É-lhes oferecido um livro complementar essencial para o completo entendimento do primeiro Tomo 1: “Código de Processo Civil” – Tomo 2. O gerente da loja ainda tenta impingir-lhes o Tomo 3 – “Estatuto dos Tribunais Administrativos e Fiscais”, mas para agora chega, pensa Processo Civil.

Já em casa, muito há a fazer nos preparativos.
O casal começa por analisar o que diz a introdução do Tomo 1 : “A boa preparação do Matrimónio começa por saber usar o Tomo 1, em conjugação com o Tomo 3, e usando o Tomo 2 em todas as questões não resolvidas por este livro”(art.1º).
Contencioso e Processo Civil percebem que deveriam ter levado também o Tomo 3. Enquanto Contencioso volta à loja, Processo Civil chega à seguinte conclusão: “- Parece-me que estes três Tomos fazem realmente um obra completa, mas era capaz de jurar no início que assim não sucedia”.

(Fim da 1ª Parte)

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